CONSTANTINO E O PAGANISMO NA IGREJA
O moderno cristianismo é obcecado pelo tijolo e pelo concreto. O complexo de edifício está tão inculcado em nossas mentes que se um grupo de crentes começa a reunir-se, sua primeira idéia é encontrar um salão. Como pode um grupo de cristãos pretender ser uma igreja sem um salão? E por aí vão seus pensamentos.
A “Igreja” está tão ligada à idéia de igreja enquanto edifício que nós inconscientemente equiparamos as duas. Escute o vocabulário do cristão médio de hoje:
"Amigo, você viu como é bonita essa igreja que acabamos de passar?”
"Essa é a maior igreja que já vi. Sua conta de luz deve ser bem elevada!”
"Nossa igreja é bem pequena. Estou ficando claustrofóbico. Precisamos ampliar o salão”.
"Faz frio na igreja hoje; os bancos estão me congelando”.
"Fomos à igreja durante quase todos os domingos do ano”.
Escutemos o vocabulário do pastor mediano.
"Não é maravilhoso estar na casa de Deus hoje?"
"Necessitamos ser reverentes quando entramos no santuário do Senhor”.
Ou como a mãe fala com seu filho traquina (em tom grave), “Tire esse sorriso de sua boca, agora você está na igreja! Precisamos nos comportar na casa do Senhor!”
Para dizer sem rodeios, nenhum destes pensamentos tem qualquer coisa a ver com o cristianismo do NT. Melhor dizendo, eles refletem o pensamento de outras religiões — principalmente o Judaísmo e o paganismo.
Templos, Sacerdotes e Sacrifícios.
O antigo Judaísmo estava centrado em três elementos: O templo, o sacerdócio e o sacrifício. Quando Jesus veio, Ele cancelou os três elementos cumprindo-os em Si mesmo. Ele é o Templo que incorpora uma casa nova e viva feita de pedras vivas — “sem mãos [humanas]”. Ele é o Sacerdote que estabeleceu um novo sacerdócio. Ele é o Sacrifício perfeito e definitivo.
Como conseqüência, o templo, o sacerdócio e o sacrifício do Judaísmo cessaram com a vinda de Jesus Cristo. Cristo é o cumprimento e a realidade de tudo isso. No paganismo greco-romano estes 3 elementos também estavam presentes: Os pagãos tiveram seus templos, seus sacerdotes e seus sacrifícios.
Foram apenas os cristãos que descartaram todos estes elementos. Poder-se-ia dizer que o cristianismo foi a primeira religião sem templos. Na mente do cristão primitivo, era a pessoa que constituía o espaço sagrado, não a arquitetura. Os primeiros cristãos entendiam que eles mesmos — coletivamente — eram o templo de Deus e a casa de Deus.
Notavelmente, em nenhuma parte do NT, encontramos os termos “igreja” (ekklesia), “templo”, ou “casa de Deus”, usados para referir-se a edifícios próprios. Ao ouvido do cristão do século I, descrever um edifício como ekklesia (igreja) seria como chamar uma mulher de arranha-céu!
O uso inicial da palavra ekklesia (igreja) para referir-se a um lugar de reunião cristã ocorre no ano 190 d.C. por Clemente de Alexandria (150-215). Clemente foi a primeira pessoa a utilizar a frase “ir à igreja”, que era um pensamento alheio ao crente do século I. (Ninguém pode deslocar-se a um lugar que é ele mesmo! Ao longo do NT, ekklesia sempre se referiu a uma assembléia de pessoas, não a um lugar!)
Mesmo assim, a referência “ir à igreja” de Clemente não trata de uma alusão a um edifício de alvenaria construído especialmente para a adoração dos membros, trata de um lugar privado que os crentes do século II usavam para suas reuniões. Os cristãos não construíram edifícios especiais até a Era Constantino no século IV. Tampouco tiveram um sacerdócio especial separado para servir a Deus. Em vez disso, cada crente reconhecia que ele mesmo era um sacerdote diante de Deus.
Os cristãos primitivos também eliminaram os sacrifícios porque entendiam que o sacrifício verdadeiro e final (Cristo) havia prevalecido. Os únicos sacrifícios que ofereciam eram sacrifícios espirituais de louvor e gratidão.
Entre os séculos IV e VI, o catolicismo romano absorveu as práticas religiosas do paganismo e do Judaísmo. Instalou um clericalismo profissional e erigiu edifícios sagrados de alvenaria. E converteu a Santa Ceia em um sacrifício místico.
Seguindo a trilha dos pagãos, o catolicismo adotou a prática das virgens vestais (sagradas) e da queima do incenso. Felizmente os protestantes aboliram o uso do sacrifício da Ceia do Senhor, das virgens vestais e da queima de incenso. Mas eles retiveram tanto a casta sacerdotal (o clero) como o edifício sagrado.
De igrejas caseiras a Santas Catedrais
Os primeiros cristãos acreditavam que a presença de Jesus é a própria presença de Deus. Eles acreditavam que o corpo de Cristo, a Igreja, constitui o templo.
Quando o Senhor Jesus estava na terra, Ele fez algumas declarações negativas referindo-se ao templo judaico. A maior foi que o templo seria destruído!
Mesmo Jesus referindo-se ao templo que existia no sentido arquitetônico, na realidade, Ele estava falando de seu próprio corpo. Jesus disse que depois da destruição do templo, Ele o levantaria novamente dentro de três dias. Ele estava se referindo ao templo real, a Igreja, a qual Ele levantou em si mesmo no terceiro dia. Significativamente, Ele se referia ao templo real — a igreja — que Ele levantaria. Ele levantaria a Si mesmo no terceiro dia.
Desde que Cristo ressuscitou, nós cristãos chegamos à condição de o templo de Deus. Por isso, o NT reserva a palavra “igreja” (ekklesia) para o povo de Deus. A Bíblia nunca emprega esta palavra referindo-se a algum edifício de alvenaria.
A atitude de Jesus limpar o templo significa que a “adoração do templo” judaico seria substituída pela adoração a Ele próprio. Com Sua vinda, o Pai não seria adorado em uma montanha ou templo. Ele seria adorado em espírito e em verdade.
Quando o cristianismo nasceu, foi a única religião na terra sem objetos sagrados, pessoas sagradas, espaços sagrados. Mesmo rodeado por sinagogas judaicas e templos pagãos, os primeiros cristãos foram as únicas pessoas religiosas na terra que não edificavam templos sagrados de adoração. A fé Cristã nasceu em casas, fora de pátios, ao longo das margens da estrada, e em salas de estar.
Durante os primeiros três séculos, os cristãos não tiveram edifícios especiais. Como disse um erudito, “O cristianismo que conquistou o Império Romano era essencialmente um movimento centrado em casas”. Alguns dizem que o fato deles reunirem-se em casas era devido à repressão. Isso não é verdade. Foi uma opção consciente e deliberada.
Na medida em que as congregações cresciam em tamanho, os cristãos começaram a remodelar seus lares para acomodar os números crescentes. Um dos descobrimentos arqueológicos mais marcantes nesse sentido foi a casa de Dura Europeas na moderna Síria. Esta casa constitui o mais antigo registro de uma igreja caseira de que se tem notícia. Foi um despretensioso local privado adequado para acomodar cristãos em suas reuniões por volta do ano 232 d.C.
Essencialmente, a casa de Dura-Europeas era uma casa onde se havia suprimido a parede entre dois quartos para criar uma grande sala. Com a reforma, a casa podia receber aproximadamente 70 pessoas. As casas reformadas, como foi o caso de Dura-Europeas, não podem ser classificadas como “edifícios de igrejas”. Eram simplesmente casas adaptadas para acomodar assembléias maiores. Além disso, estas casas jamais foram chamadas de “templos”, termo que os pagãos e judeus utilizavam para designar seus espaços sagrados. Os cristãos não chamaram seus edifícios de “templos” até o século XV!
A Criação de Espaços e Objetos Sagrados.
Nos séculos II e III ocorreu uma mudança. Os cristãos começaram a adotar o costume pagão de reverenciar mortos. Seu enfoque era a lembrança dos mártires. Assim tiveram início as orações para os santos (que mais tarde viraram ladainhas).
Os cristãos adotaram a prática pagã de refeições em honra dos mortos. Práticas envolvendo o funeral cristão e o canto fúnebre também vieram diretamente do paganismo do século III.
Os cristãos do século III se reuniam em dois tipos de locais: Suas próprias casas e o cemitério. Eles se reuniam no cemitério por desejarem estar perto de seus irmãos mortos. Eles acreditavam que compartilhar uma refeição em um cemitério onde fora enterrado um mártir significava celebrá-lo e cultuar juntamente com ele.
Como os corpos dos mártires “santos” repousavam ali, começaram a encarar as sepulturas cristãs como “locais santos”. Então os cristãos resolveram construir pequenos monumentos sobre tais locais — especialmente sobre as tumbas de santos famosos. Construir um santuário em cima de uma tumba e chamá-lo “sagrado” também era uma prática pagã.
Em Roma, os cristãos começaram a decorar as catacumbas (cemitérios subterrâneos) com símbolos cristãos. Assim, a arte chegou a associar-se com os espaços sagrados. Clemente de Alexandria (150-215 d.C.) foi um dos primeiros cristãos a recomendar o uso de artes visuais na adoração.
(É importante ressaltar que a cruz enquanto referência artística à morte de Cristo não foi adotada antes de Constantino. O crucifixo, a representação artística do Salvador pregado na cruz, surgiu no século V. O costume de fazer o “sinal da cruz” com a mão teve origem no século II).
Por volta do século II, os cristãos passaram a venerar os ossos dos santos, tidos como santos e sagrados. Eventualmente, isso deu origem às coleções de relíquias. A reverência aos mortos foi a maior motivação na formação de comunidades no Império Romano. Agora os cristãos acrescentavam tais coisas à sua própria fé.
No final do século II houve uma mudança na forma de ver a Ceia do Senhor. A Ceia era uma refeição completa dentro de um cerimonial chamado “Comunhão Santa”.
Durante o século IV, esta tendência beirou o ridículo. O cálice e o pão eram vistos como geradores de um senso de assombro, pavor e mística. Chegou a ponto das igrejas do Oriente colocarem um toldo sobre a mesa do altar onde estavam o pão e o cálice. (No século XVI colocaram grades na mesa do altar As grades significavam que a mesa do altar era um objeto santo que poderia ser tocado apenas por pessoas santas — ou seja, o clero!).
Pelo século III, os cristãos tinham não apenas lugares sagrados, eles tinham também objetos sagrados. (Logo eles desenvolveriam um sacerdócio sagrado). Dessa forma, os cristãos dos séculos II e III começaram a assimilar o pensamento mágico característico dos pagãos. Todos estes fatores prepararam o terreno para que o homem desse início à construção de edifícios eclesiásticos.
Constantino — Pai do Edifício da Igreja
A história de Constantino (285-337 d.C.) abre uma página tenebrosa na história da cristandade. Foi ele quem iniciou a construção dos edifícios eclesiásticos A história é assombrosa.
Quando Constantino entrou em cena, era favorável que os cristãos escapassem de sua condição de desprezo e de minoria. A tentação pela aceitação foi por demais forte para resistir e a bola de neve constantiniana começou a rolar.
Em 312 d.C., Constantino tornou-se César do Império Ocidental. Em 324, ele tornou-se Imperador de todo Império Romano. Pouco tempo depois ele começou a ordenar a construção de edifícios de igreja. Ele fez isso para promover a popularidade e a aceitação da cristandade. Se os cristãos tivessem seus próprios edifícios sagrados — como tinham os judeus e os pagãos — a fé cristã seria legitimada no Império.
É importante entender a tática de Constantino — porque ele foi o útero que concebeu o edifício da igreja. O pensamento de Constantino era dominado pela superstição e pela magia pagã. Mesmo após tornar-se Imperador, ele permitiu às velhas instituições pagãs permanecerem como eram antes.
Mesmo após sua conversão ao cristianismo, Constantino nunca abandonou sua adoração ao deus sol. Ele manteve a imagem do sol cunhada na moeda. Ele montou uma estátua do deus sol que sustentava sua própria imagem no Foro de Constantinopla (sua nova capital). Constantino também mandou construir uma estátua da deusa Cibele, (embora apresentada em postura de adoração cristã).
(Historiadores continuam a debater se Constantino foi ou não um genuíno cristão. O fato de ter ordenado a execução de seu filho mais velho, seu sobrinho, e seu cunhado, não fortalece o expediente no que diz respeito à sua conversão. Mas não estamos aqui para levar avante esse tipo de discussão).
Em 321 d.C., Constantino decretou o domingo como dia de descanso — um feriado legal. Parece que a intenção de Constantino era honrar ao deus Mitras, o Sol Invencível. (Constantino descreveu o domingo como “o dia do sol”). Confirmando sua afinidade com a adoração do sol, as escavações de São Pedro de Roma descobriram um mosaico de Cristo como o Sol Invencível.
Praticamente até o dia de sua morte Constantino “agia como um sumo sacerdote pagão”. Na realidade ele detinha o título pagão de Pontifex Máximus, que significa o chefe dos sacerdotes pagãos! (No século XV este mesmo título chegou a ser o título honorífico do Papa Católico).
Constantino usou decorações e rituais tanto pagãos como cristãos na dedicatória de sua nova capital, Constantinopla. Ele utilizou fórmulas de magia pagã para proteger as colheitas e sanar as enfermidades.
Além disso, toda evidência histórica indica que Constantino era egomaníaco. Quando construiu a nova “Igreja dos Apóstolos”, ele erigiu monumentos aos doze Apóstolos, os quais ladeavam um único sepulcro central. Esta tumba Constantino reservou para si mesmo — nomeando-se o décimo terceiro e principal Apóstolo! Constantino não apenas deu continuidade à prática pagã de veneração aos mortos, ele também pretendeu incluir-se no rol desses mortos ilustres!
Constantino também fortaleceu a noção pagã de objetos e espaços sagrados. Devido principalmente à sua influência, o comércio de relíquias passou a ser bem comum na igreja. Pelo século IV, a obsessão pelas relíquias se disseminou de tal forma que alguns cristãos se posicionaram contra essa prática definindo-a como “Uma odiosa observância introduzida nas igrejas sob o disfarce da religião... Uma obra de idólatras”.
Constantino também se destacou por trazer à fé cristã a idéia de “lugar santo” baseado no modelo do santuário pagão. Foi por causa da aura do “sagrado” que os cristãos do século IV anexaram a Palestina, e a tornaram conhecida como “a Terra Santa” no século VI.
O que mais impressiona é que depois de morto Constantino foi declarado “divino”. (Este foi um costume aplicado a todos os Imperadores pagãos que morreram antes dele). Após a morte de Constantino, o Senado proclamou-o deus pagão. E ninguém os impediu de fazer isso.
Neste ponto, uma palavra precisa ser dita acerca de Helena, mãe de Constantino. Essa mulher ficou famosa por sua obsessão com relíquias. Em 326 d.C., Helena fez uma peregrinação à Terra Santa. Em 327 d.C., em Jerusalém, ela declarou ter encontrado a cruz e os pregos utilizados na crucifixão de Jesus. Consta que Constantino promoveu a idéia de que os pedacinhos de madeira da cruz de Cristo possuíam poderes mágicos! A verdade é que uma mentalidade de magia pagã operou no Imperador Constantino. Indiscutivelmente, o pai do edifício da igreja.
O Programa de Construção de Constantino
Depois da viagem de Helena a Jerusalém em 327 d.C., Constantino começou a construir os primeiros edifícios de igrejas ao longo do Império Romano. Ao fazê-lo, ele seguiu a trilha pagã de erigir templos para honrar a Deus.
É interessante o fato dele ter nomeado suas igrejas com nomes de santos — da mesma forma que os pagãos nomeavam seus templos com nomes de seus deuses. Ele construiu suas primeiras igrejas sobre os cemitérios onde os cristãos honravam seus santos mortos. Quer dizer, ele as construiu sobre os restos mortais dos santos mortos. Por quê? Porque, desde pelo menos um século antes os cemitérios onde os santos foram enterrados eram tidos como “campo santo”.
Muitas dessas gigantescas edificações foram construídas sobre as tumbas dos mártires. Essa prática era baseada na idéia de que os mártires tinham o mesmo poder anteriormente atribuído aos deuses pagãos. Mesmo sendo uma prática pagã os cristãos adotaram esta idéia mordendo o anzol.
Os mais famosos “espaços santos” foram: São Pedro, sobre o Monte do Vaticano (erigido em cima da suposta tumba de Pedro). São Paulo, do lado de fora dos muros da cidade (construída em cima da suposta tumba de Paulo), A deslumbrante e magnífica igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém (construída em cima da suposta tumba de Cristo), e a igreja da Natividade em Belém (construída sobre a suposta gruta onde Cristo nasceu). Constantino construiu nove igrejas em Roma e muitas outras em Jerusalém, Belém e Constantinopla.
Querido cristão observe! As raízes do “sagrado” edifício da igreja são completamente pagãs. O edifício da igreja foi inventado por um professo ex-pagão dotado de uma mente completamente pagã. Tais edifícios da igreja foram construídos sobre a idéia pagã de que o morto cria um espaço santo. Por favor, lembre-se disto toda vez que você escutar alguém se referir a um edifício como casa “santa” e “sagrada” de Deus.
Explorando os Primeiros Edifícios de igrejas.
Pelo fato da edificação ser considerada sagrada, o congregante necessitava passar por um ritual de purificação antes de entrar. Então, no século IV, foram construídos tanques no pátio para que os cristãos pudessem lavar-se antes de entrar no edifício.
Os edifícios de Constantino eram espaçosos, magníficos e tidos como “dignos de um Imperador”. Eram tão esplêndidos que seus contemporâneos pagãos notaram que “estes gigantescos edifícios imitavam” a estrutura dos templos pagãos! E isto não era por acaso. Constantino decorava abundantemente os novos edifícios com arte pagã!
Os edifícios das igrejas construídas por Constantino eram desenhados exatamente conforme o modelo da basílica. A basílica era o edifício governamental mais comum. Era desenhada segundo o estilo dos templos pagãos.
As basílicas cumpriam mesma função dos auditórios das universidades de hoje. Com assentos extremamente confortáveis para acomodar as pessoas dóceis e passivas que presenciavam os eventos. Esta foi uma das razões pelas quais Constantino escolheu ao modelo da basílica.
Ele também a favoreceu por sua fascinação com a adoração ao sol. As basílicas foram desenhadas de tal maneira que os raios solares caíam sobre o orador enquanto este falava à congregação. Igual aos templos gregos e romanos, as basílicas cristãs foram construídas com a fachada voltada para o leste.
Exploremos a basílica cristã por dentro. Era uma réplica exata da basílica romana usada pelos magistrados e oficiais romanos. As basílicas cristãs possuíam uma plataforma elevada de onde os clérigos ministravam. A plataforma tinha uma elevação com vários degraus. Também havia uma grade que separava o clero dos leigos.
No centro do edifício ficava o altar. Era uma mesa (mesa do altar) ou arca coberta por uma tampa. O altar era considerado o lugar mais santo do edifício por duas razões. Primeiramente, este continha relíquias dos mártires. (Após o século V, a presença de uma relíquia no altar era essencial para a legitimação da igreja). Em segundo lugar, a Eucaristia (o pão e o cálice) estavam sobre o altar.
A Eucaristia, agora vista como um sacrifício sagrado, era oferecida sobre o altar. Por serem considerados como “homens santos”, apenas e tão somente ao clero era permitido receber a Eucaristia dentro do cercado!
Em frente ao altar havia a cadeira do Bispo chamada de cátedra. A expressão ex-cátedra deriva desta cadeira. Ex-cátedra significa “desde o trono”. A cadeira do Bispo, ou “trono” segundo seu nome original, era a maior e mais elegante dentro do edifício. Esta cadeira ficava no lugar da cadeira do juiz da basílica romana. Era rodeada por duas fileiras de cadeiras reservadas para os anciãos.
O sermão era pregado desde a cadeira do Bispo. O poder e a autoridade repousavam nessa cadeira. A cadeira era coberta com um pano feito de linho branco. Os anciãos e diáconos se sentavam em ambos os lados, formando um semicírculo. A distinção hierárquica encravada na arquitetura da basílica era inconfundível.
É interessante que a maioria dos edifícios das igrejas modernas possuem cadeiras especiais para o pastor e seus auxiliares situadas sobre a plataforma atrás do púlpito. Assim como no caso do trono do Bispo, a cadeira do pastor geralmente é a maior! Tudo isso são vestígios da basílica pagã.
Somando-se a tudo isso, Constantino não destruiu templos pagãos em uma larga escala, nem tampouco os fechou. Em alguns lugares os templos pagãos existentes foram esvaziados de seus ídolos e convertidos em edifícios cristãos. Os cristãos usaram materiais das ruínas de templos pagãos e construíram novos edifícios cristãos nesses locais.
As Maiores Influências no Culto
O edifício da igreja produziu mudanças significativas na adoração cristã. Pelo fato do Imperador ser a “personalidade” número um na igreja, um simples cerimonial não era suficiente. Para poder honrá-lo, a pompa e os rituais da corte imperial foram adotados pela liturgia cristã.
Era costume dos imperadores romanos serem precedidos por luzeiros quando apareciam em público. Estes luzeiros eram acompanhados de uma tina incandescente cheia de especiarias aromáticas. Seguindo as normas deste costume, Constantino introduziu as velas e a queima de incenso como parte dos cultos da igreja. Toda essa parafernália acompanhava o clero quando ele entrava em cena!
Sob o reino de Constantino, os clérigos, que usavam roupas normais no princípio, passaram a vestir-se com roupa especial. Que tipo de roupa especial era esta? Eram peças do vestuário dos oficiais romanos. Ademais, se introduziram vários gestos de respeito aos membros do clero que eram semelhantes aos dedicados aos oficiais romanos.
Também foi adotado o costume romano de iniciar o culto com músicos profissionais. Para este propósito, corais foram treinados e trazidos para a igreja cristã. O culto tornou-se mais profissional, dramático e cerimonial.
Todas estas características foram copiadas da cultura greco-romana e diretamente inseridas nas atividades da igreja cristã. A cristandade do século XIV foi profundamente moldada pelo paganismo grego e pelo imperialismo romano. O resultado imediato de tudo isso foi uma perda da intimidade e da participação aberta. Enquanto os clérigos profissionais dirigiam os atos do culto, os leigos os observavam como espectadores.
Como prontamente admite um erudito católico, com a vinda de Constantino “vários costumes da velha cultura romana fluíram para a liturgia cristã... Até mesmo o cerimonial envolvendo o antigo culto ao Imperador enquanto deidade encontrou lugar no culto da igreja, apenas em seu formato secular”.
Constantino proveu a paz para todos os cristãos. Sob seu reino, a fé cristã foi legitimada. Na realidade esta superou em tamanho tanto o Judaísmo como o paganismo.
Por estas razões, os cristãos viram a ascensão de Constantino ao trono do Império como um ato de Deus. Como um instrumento de Deus para resgatá-los. Agora a cultura cristã e a cultura romana eram moldadas conjuntamente.
O edifício cristão revela que a igreja, de uma ou de outra forma, fechou uma íntima aliança com a cultura pagã. Conforme disse Will Durantt, “As ilhas pagãs permaneceram na propagação do mar Cristão”. Isto representou um trágico distanciamento da simplicidade primitiva que a igreja de Jesus Cristo conheceu.
Os cristãos do século I eram avessos ao mundo e evitavam qualquer contato com o paganismo. Tudo isso mudou durante o século IV quando a igreja emergiu como uma instituição pública no mundo e começou a “absorver e cristianizar idéias e práticas religiosas pagãs”. Como disse certo historiador, “o edifício da igreja substituiu o templo; o patrimônio da igreja substituiu as terras e os tesouros dos templos”. Sob Constantino, todas as propriedades da igreja eram isentas de impostos.
Conseqüentemente, a história do edifício da igreja é a triste saga do cristianismo adotando práticas da cultura pagã. Foi uma adoção que transformou radicalmente a cara de nossa fé. Os edifícios das igrejas das Eras Constantino e pós Constantino tornaram-se santuários sagrados. Os cristãos abraçaram o conceito de templo. Eles se impregnaram com a idéia pagã de que existe um lugar especial onde Deus mora de uma maneira especial. E que esse lugar é feito “por mãos [humanas]”.
Como os demais costumes pagãos absorvidos pela fé cristã (liturgia, sermão, veste clerical, estrutura hierárquica de liderança, etc.), os cristãos do terceiro e quarto século atribuíram incorretamente a origem do edifício da igreja ao Antigo Testamento. O edifício da igreja não foi inspirado no Antigo Testamento.
O edifício da igreja foi adotado diretamente da cultura pagã conforme já vimos. “Rituais solenes e sacramentais se infiltraram nos cultos da igreja pela via do misticismo [do culto pagão], e foram justificados da mesma forma que muitas outras coisas, com alguma referência do Antigo Testamento”.
Usar o Antigo Testamento como justificativa para o edifício da igreja é não apenas incorreto como também contraproducente. A velha parafernália mosaica de sacerdotes sagrados, edifícios sagrados, rituais sagrados e objetos sagrados foi destruída para sempre na cruz de Cristo. Além disso, no lugar de tudo isso foi colocado um organismo sem hierarquia, sem rituais, sem liturgia, chamado ekklesia (igreja).
A Evolução da Arquitetura da Igreja
Depois da era Constantino os edifícios das igrejas passaram por várias etapas diferentes. (É demasiado complicado detalhá-las aqui). Para citar um pesquisador: “As mudanças da arquitetura eclesiástica são mais resultado de uma mutação do que de uma contínua linha de evolução”. Estas mutações não contribuíram muito para alterar as características arquitetônicas dominantes que criaram o clero monopolizador e a congregação inerte.
Examinando rapidamente a arquitetura eclesiástica vemos que após Constantino, a arquitetura cristã passou da fase basilical para a fase bizantina. As igrejas bizantinas tinham grandes cúpulas centrais além de ícones e mosaicos decorativos.
Depois da arquitetura bizantina veio a Românica. Os edifícios românicos se caracterizavam por uma elevação de três plantas, com gigantescas colunas sustentando arcos redondos e um interior colorido. Este estilo surgiu pouco depois de Carlos Magno ser proclamado Imperador do Santo Império Romano em 25 de dezembro de 800 d.C.
Após o período românico veio a era gótica no século XII. A arquitetura gótica foi marcada por catedrais com abóbadas, arcos e pilastras pendentes. O termo “catedral” se deriva de cátedra. Catedral é o edifício que contem a cátedra, a cadeira do Bispo. Catedral é a igreja que contém o “trono” do Bispo!
Os vitrais foram introduzidos nas igrejas no século VI por Gregório de Tours (538-593 d.C.) Os vitrais foram colocados nas estreitas janelas das igrejas românicas. Suger (1081-1151 d.C.), abade de São Denis, ampliou o uso dos vitrais coloridos. Ele adornou os vitrais com pinturas sagradas. Ele foi o primeiro a usar vitrais coloridos nas janelas dos edifícios da igreja. Ele os colocou em suas catedrais góticas.
Grandes painéis de vitrais coloridos preencheram as paredes das igrejas góticas emitindo uma forte luz de diferentes cores. Também havia cores escuras e bonitas, criando um efeito de uma nova Jerusalém. Os vitrais dos séculos XII e XIII raramente foram superados em beleza e qualidade. Com suas cores deslumbrantes, os vitrais criaram um sentido expressivo de majestade e esplendor. Provocaram sentimentos associados à adoração de um Deus poderoso e intimidatório.
Como no caso das basílicas de Constantino, a raiz da catedral gótica foi completamente pagã. Os arquitetos góticos dependeram muito dos ensinos do filósofo grego Platão. Este filósofo ensinou que o som, a cor e a luz possuíam significados elevados e místicos. Que podem induzir humores e transportar as pessoas ao “Bem Eterno”. Os artistas góticos se inspiraram nos ensinamentos de Platão e os estabeleceram para serem respeitados. Criaram sistemas de luz assombrosos e inspiradores para dar um irresistível sentido de esplendor e de adoração.
A cor é um dos mais poderosos fatores emotivos disponíveis. Vitrais góticos foram utilizados com destreza para criar um sentido místico e transcendente. Inspirada na grandiosidade das estátuas e torres do antigo Egito, a arquitetura gótica buscou uma nova captura do sentido do sublime pelo tamanho exagerado.
Sobre a estrutura gótica foi dito que “o edifício inteiro parece preso à terra em pleno vôo... Eleva-se como uma exalação do solo... Nenhuma arquitetura espiritualiza, purifica e lança tanta proteção celeste ao material usado”. Era o definitivo símbolo do céu unido à terra.
Assim, pelo uso astuto da luz, da cor e da altura exagerada, a catedral gótica fomenta um sentimento místico, transcendente e assombroso. Todas estas características foram retiradas de Platão e passadas como cristãs.
Os edifícios eclesiásticos basilicais, românicos e góticos foram tentativas humanas de retratar o celestial e o espiritual. De uma maneira bem real o edifício da igreja ao longo da história reflete o incontrolável desejo humano de retratar o divino com mãos e olhos humanos. Isso demonstra que a comunidade cristã do século IV perdera o contato com aquelas realidades celestiais que não podem ser percebidas pelos sentidos, mas apenas experimentadas pelo espírito humano.
Pior que isso, a principal mensagem da arquitetura gótica é: “Deus é transcendente e inalcançavel — resta-nos temer Sua majestade”. Mas tal majestade contradiz a mensagem do evangelho que diz que Deus é bem acessível. Tão acessível que fixou residência dentro de nós!
O Edifício da Igreja Protestante
No século XVI, os reformadores herdaram a sisuda tradição dos edifícios. Em um curto período de tempo milhares de catedrais medievais passaram para seu controle.
Os reformadores eram em sua maioria sacerdotes. Conseqüentemente, eles estavam inadvertidamente condicionados aos padrões do pensamento Católico Medieval.
Assim, embora os reformadores remodelassem alguns aspectos dos edifícios que passaram para seu controle, eles executaram bem poucas mudanças funcionais no que diz respeito à sua arquitetura.
Mesmo que os reformadores quisessem fazer mudanças radicais quanto à prática da igreja, a maior parte das massas não estava preparada para aceitar tais mudanças. Martinho Lutero não tinha dúvidas de que a igreja não era nem um edifício nem uma instituição. De qualquer forma era impossível para ele superar mais de um milênio de confusão sobre este tema.
A principal mudança arquitetônica dos reformadores refletiu sua teologia. Eles colocaram o púlpito no centro dominante do edifício em vez da mesa do altar. O verdadeiro núcleo da Reforma foi a idéia de que as pessoas não poderiam conhecer a Deus nem crescer espiritualmente a menos que elas ouvissem a pregação. Portanto, quanto os reformadores herdaram os edifícios eclesiásticos existentes, eles os adaptaram para tal finalidade.
O Campanário
Desde que os habitantes de Babel construíram uma torre para “alcançar os céus”, as civilizações têm seguido o exemplo construindo estruturas com as partes superiores pontiagudas. Os babilônios e egípcios construíram obeliscos e pirâmides que refletiam sua crença de que eles estavam dando um passo para a imortalidade. Quando a filosofia e a cultura grega prevaleceram, a arquitetura abandonou a verticalidade e assumiu a horizontalidade, sugerindo a crença grega na democracia, na igualdade entre os homens, e nos deuses terrestres e prosaicos.
Todavia, com o desenvolvimento da Igreja Católica Romana, a prática de produzir campanários para coroar os edifícios ressurgiu. Por volta do final do período bizantino, os papas católicos tiraram inspiração dos obeliscos do Antigo Egito. Quando a arquitetura religiosa entrou no período românico, os campanários começaram a aparecer nos topos e cantos de cada catedral construída no Império Romano. Esta tendência alcançou seu apogeu durante a era da arquitetura gótica com a construção da catedral de São Denis pelo abade Suger.
Oposta à arquitetura grega, a linha característica da arquitetura gótica era vertical, que sugeria um esforço para alcançar as alturas. Por este tempo, por toda Itália, começaram a surgir torres na fachada dos edifícios das igrejas. As torres continham sinos para chamar o povo para o culto. Estas torres representavam o contato entre o céu e a terra.
Com o passar dos anos os arquitetos góticos (apaixonados pela verticalidade) buscaram agregar uma haste bem alta em cima de cada torre. As hastes (também chamadas de campanários) simbolizavam a aspiração do homem de unir-se a seu criador. Durante os séculos que se seguiram, as torres cresceram tornando-se mais altas e mais delgadas. Eventualmente, estas chegaram a ser o ponto de enfoque visual para a arquitetura. Elas também reduziram em número. De torres gêmeas “tipo ocidental” passaram a ter uma única haste característica das igrejas da Inglaterra e Normandia.
Em 1666 algo sucedeu que modificou o curso da arquitetura das torres. Um incêndio se espalhou pela cidade de Londres arruinando a estrutura da maior parte de suas 97 igrejas. O Sr. Cristofer Wren (1632-1723) foi nomeado para redesenhar todas as igrejas de Londres. Utilizando suas próprias inovações estilísticas modificou as hastes góticas francesas e alemãs, Wren criou a haste moderna.
Em suma, o moderno campanário é uma invenção Medieval que tem suas raízes nas hastes e nas torres góticas. Foi melhorada e popularizada pelo programa de construção do Sr. Cristofer Wren em Londres depois do grande incêndio no ano de 1666. Dai em diante, a haste chegou a ser a característica dominante da arquitetura anglo-saxônica.
Quando os puritanos apareceram, eles construíram seus edifícios (igrejas) de uma maneira bem mais simples que seus predecessores católicos e anglicanos. Mas eles mantiveram a haste a passaram-na para o novo mundo das Américas. Assim, a maioria das igrejas estadunidenses possui um campanário — uma estrutura que tem suas raízes na antiga filosofia e arquitetura babilônica e egípcia!
A mensagem da haste é algo que contradiz a mensagem do NT. Os cristãos não necessitam subir até os céus para encontrar Deus. Ele está aqui mesmo! Com a chegada de Emanuel, Deus está conosco. E com sua ressurreição, temos um Senhor que mora dentro de nós. O campanário resiste a esta realidade.
O Púlpito
Os primeiros sermões foram proferidos da cadeira do Bispo, ou cátedra, situada atrás do altar. Posteriormente o ambo, uma mesa alta ao lado do santuário, diante da qual as lições bíblicas eram ministradas, tornou-se o lugar onde os sermões passaram a ser proferidos. O ambo foi tomado da sinagoga judaica. Porém, suas velhas raízes remontam às mesas e plataformas de leitura da antiguidade greco-romana. João Crisóstomo (347-407) destacou-se por tornar o ambo o lugar da pregação.
Já em 250 d.C. o ambo foi substituído pelo púlpito. Cipriano (200-258) menciona colocar o líder da igreja em função pública no pulpitum. Nossa palavra “púlpito” deriva da palavra latina pulpitum que significa “palco”! O pulpitum, ou púlpito, situava-se em cima de uma plataforma no local mais elevado da congregação.
Com o tempo, a frase “subir à plataforma” (ad pulpitum venire) tornou-se parte do vocabulário religioso do clero. Em 252 d.C., Cipriano menciona a plataforma elevada que separa o clero dos leigos como “a plataforma sagrada e venerada do clero!”
Pelo fim da Idade Média, o púlpito tornou-se bem comum nas igrejas paroquiais. Com a reforma, este chegou a ser a mobília central do edifício da igreja O púlpito simbolizava a substituição da centralidade da ação ritualista (a missa) com uma instrução verbal dos clérigos (o sermão).
Nas igrejas luteranas, o púlpito foi movido para frente do altar. O púlpito dominou nas igrejas reformadas e o altar finalmente desapareceu sendo substituído pela “mesa da comunhão”. Hoje é impensável um culto protestante sem a presença da “mesa sagrada"!
O púlpito ocupa uma posição central na Igreja Protestante. Tanto que um famoso pastor em conferência patrocinada pela Associação Evangelística de Billy Graham disse: “Se a igreja vive é porque o púlpito vive — se a igreja está morta é porque o púlpito morreu”.
O púlpito é daninho porque eleva o clero a uma posição de proeminência. Como seu próprio nome diz, este coloca o pregador no centro do “palco” — separando-o e colocando-o no alto acima do povo de Deus.
O Banco e o Balcão
Agora entra o banco, o grande inibidor da comunhão face-a-face. O banco — o grande símbolo de letargia e passividade na moderna igreja. O banco — que fez do culto coletivo um espetáculo esportivo.
A palavra “banco” deriva da palavra latina podium. Que significa uma elevação acima do piso, ou “balcão”. Os bancos foram coisas estranhas ao mobiliário das igrejas durante os primeiros mil anos da história cristã. Nas primeiras basílicas, a congregação permanecia em pé durante todo o culto. (Essa prática ainda prevalece hoje em muitas congregações da Igreja Oriental).
Já pelo século XIII, bancos sem encosto foram gradualmente introduzidos nos edifícios das igrejas inglesas. Estes bancos eram feitos de pedra e colocados encostados nas paredes. Depois foram deslocados para a área central da igreja (a área chamada nave). Inicialmente os bancos eram ordenados em semicírculo rodeando o púlpito. Mais tarde eles foram fixados ao piso.
O banco moderno foi introduzido no século XIV. Mas não chegou a ser comum até o século XV. Quando os bancos de madeira tomaram o lugar dos bancos de pedra. Já pelo século XVIII, os bancos de estilo “balcão” se popularizaram.
Os bancos do tipo “balcão” têm uma história engraçada. Eles eram equipados com assentos almofadados, tapetes e outros acessórios. Eram vendidos às famílias e considerados propriedade privada. Seus donos tentavam torná-lo o mais cômodo possível.
Alguns o decoravam com cortinas, almofadas, poltronas acolchoadas, lareiras, e compartimentos especiais para cães pequenos! Não era incomum o dono trancar seu balcão com chaves e cadeados! Depois de muita crítica por parte do clero, estes belos balcões foram trocados por assentos comuns.
Pelo fato do balcão ter laterais muito altas, o púlpito muitas vezes tinha que ser elevado ainda mais para que pudesse ser visto pelas pessoas. O púlpito copo de vinho surgiu durante a era colonial. Esse estilo de púlpito colocava o pastor numa posição “bem elevada” como na visão do templo pelo profeta Isaías. Os balcões familiares do século XIII foram substituídos por bancos normais de forma que todas as pessoas vissem a plataforma reformada de onde o clérigo ministrava o culto.
Mas o que é o banco? O significado da palavra diz tudo. É um “balcão” baixo — um assento móvel do qual observam-se performances no palco (púlpito). Este imobiliza a congregação dos santos reduzindo-os à condição de espectadores mudos. Ele entorpece a comunhão face-a-face e a interação mútua.
As galerias (ou conjunto de balcões na igreja) foram inventadas pelos alemães no século XVI. Foram popularizadas pelos Puritanos no século XVIII. Desde então, os balcões chegaram a ser “marca registrada” do edifício dos protestantes. Tinha o propósito de deixar a congregação mais próxima do púlpito. Novamente, escutar o pregador sempre foi a principal consideração no desenho da Igreja Protestante.
A Arquitetura da Igreja Moderna
Durante os últimos duzentos anos, os modelos arquitetônicos dominantes empregados pelas igrejas protestantes podem ser classificados de duas formas: O estilo santuário (usado nas igrejas litúrgicas) e o estilo palco (usado nas igrejas evangélicas). O santuário é a área onde o clérigo (e aventualmente o coro) conduz o culto. Nas igrejas tipo palco, há uma grade ou tela que separa o clero do leigo.
O edifício da igreja estilo santuário foi profundamente influenciado pelo revivalismo do século XIX. É essencialmente um auditório estruturado para enfatizar a performance dramática do pregador e do coro. Sua estrutura sugere implicitamente que o coro (ou equipe do culto) atue de forma a animar ou entreter a congregação. Ele também destaca intensamente a figura do pregador, esteja ele sentado ou em pé.
No edifício estilo santuário há uma pequena mesa de comunhão usualmente localizada num plano inferior ao púlpito. A mesa de comunhão é tipicamente decorada com castiçais de metal, uma cruz e flores. Duas velas na mesa da comunhão caracterizam a ortodoxia na maioria das igrejas protestantes de hoje. Assim como muitos aspectos do culto da igreja, a presença de velas foi adotada da corte cerimonial do Império Romano.
A despeito destas variações, toda arquitetura protestante produz o mesmo efeito estéril presente nas basílicas constantinianas, que continua preservando o abismo não bíblico entre o clero e o leigo, e encorajando a congregação a assumir um papel de espectador. O arranjo e o clima do edifício condiciona a congregação a uma postura de passividade. A plataforma do púlpito funciona como um palco e a congregação como um auditório. Em suma, a arquitetura cristã está congelada desde seu nascimento no século IV.
A Exegese do Edifício
Neste momento você pode estar pensando, “Mas quem liga para essas coisas? Dos cristãos do século I não terem edifícios de igrejas? Desses edifícios serem construídos com base em crenças e práticas pagãs? Dos católicos medievais basearem sua arquitetura na filosofia pagã? Que é que tudo isso tem a ver conosco hoje?”
Em Rethinking the Wineskin, eu explico que o local físico onde ocorre o encontro social da igreja expressa e influencia o caráter da igreja. Se você acha que o local onde a igreja se reúne é uma simples questão de conveniência, você está tragicamente errado. Você está negligenciando uma realidade básica da humanidade. Cada edifício onde nos reunimos exige uma resposta de nossa parte. Por seu interior e exterior ele nos mostra explicitamente o que a igreja é e como funciona. Nas palavras de Henri Lefebvre, “O espaço nunca está vazio; sempre encarna um significado”. Este princípio está encarnado no moto arquitetônico “o formato determina a função”. O formato do edifício reflete sua função particular.
A sociabilidade do local de reunião da igreja é um bom indício da compreensão da igreja acerca do propósito de Deus para com Seu Corpo. O local de uma igreja nos ensina como nos encontrarmos. Nos ensina o que é importante e o que não é. E nos ensina o que é aceitável dizer a um ao outro e o que não é.
Nós aprendemos estas lições do cenário ao qual nos juntamos — seja ele edifício de igreja ou lar privado. Estas lições não são de forma alguma “neutras”. Dirija-se até qualquer edifício de igreja e faça uma exegese de sua arquitetura. Pergunte a si mesmo o que é alto e o que é baixo. Pergunte a si mesmo o que está na fachada e o que está nos fundos. Pergunte a si mesmo de que forma e até que ponto é possível “ajustar” quando chegar o momento. Pergunte a si mesmo quão fácil ou difícil seria para um membro da igreja falar de onde está sentado de forma que todos possam vê-lo e ouvi-lo.
Se você olha para o aspecto do edifício da igreja e formula para si mesmo tais questões (e outras como estas), você compreenderá a razão da moderna igreja ter as características que tem. Se você formular este mesmo conjunto de questões com respeito a uma sala de estar, você terá um conjunto de respostas bem diferente. Você entenderá por que o fato de uma igreja se reunir em casas (o caso dos primeiros cristãos) foi fator determinante para seu caráter.
O local de reunião da igreja joga um papel crucial na vida da igreja. Não pode ser assumido como uma simples “incidental verdade histórica”. O local de reunião pode ensinar péssimas lições a pessoas boas e sinceras e pode também sufocar suas vidas. Chamar a atenção para a importância do local de reunião da igreja (casa ou edifício de igreja) ajuda-nos a compreender o tremendo poder de nosso ambiente social.
Ou melhor, o edifício da igreja é baseado na idéia estúpida de que o culto é algo qualitativamente diferente das coisas que fazemos em nossa vida cotidiana. As pessoas variam, naturalmente, no grau de ênfase que dão a essa disjunção. Alguns grupos têm alterado sua postura por causa desta ênfase que insiste que o culto pode apenas ocorrer em determinados tipos de espaço desenhados para que você tenha sentimentos diferentes daqueles que você tem na vida cotidiana.
A separação entre o culto e a vida cotidiana caracteriza a cristandade ocidental. O culto é visto como algo separado da estrutura da vida, como um produto a ser consumido. Séculos de arquitetura gótica têm nos ensinado mal sobre o que o culto realmente é. Poucas pessoas podem caminhar em uma poderosa catedral sem experimentar o poder do espaço.
A luz é indireta e suave. O teto é obscenamente alto. As cores são berrantes e ricas. O som propaga-se de uma forma específica. Todas estas coisas funcionam conjuntamente para dar-nos a sensação de temor e maravilha. Foram desenhadas para manipular o sentido e criar uma “atmosfera de veneração”.
Algumas tradições agregam fragrâncias a toda essa mistura. Mas os efeitos são sempre os mesmos: Nossos sentidos interagem com o espaço para produzir um estado particular de alma. Um estado de assombro, místico e transcendente que visa um escape da vida normal.
Nós, protestantes, jogamos fora alguns destes elementos e os substituímos com um tipo específico de música para alcançar o mesmo fim. Conseqüentemente, nos círculos protestantes, “bons” líderes de louvor são aqueles que conseguem usar a música para produzir aquele mesmo efeito que outras tradições lograram com o vasto espaço, o estado de espírito de venerabilidade. Mas tudo isto é alheio à vida do dia-a-dia. Sem mencionar que isso não é real. Jonathan Edwards corretamente indica que as emoções são passageiras e não podem ser usadas para mensurar o relacionamento de alguém com Deus.
Esta disjunção entre secular e espiritual é realçada quando o edifício de igreja típico faz com que você seja “processado” ao subir suas escadarias ou mover-se em seu interior. A razão disso é que você desloca-se da vida cotidiana para outra vida. Tal transição é requerida. Tudo isso fracassa no teste da segunda-feira. Não importa quão bom foi domingo, a segunda-feira pela manhã vem colocar nosso culto a prova.
Veja o coral vestindo a toga antes do começo do culto. Eles sorriem, fazem gracejos e brincam. Mas uma vez começado o culto, eles tornam-se pessoas diferentes. Não sorriem nem brincam. Esta separação falsa entre o secular e o sagrado... Esta “mística dos vitrais” de domingo pela manhã foge de enfrentar a verdade e a realidade.
Além disso, o edifício da igreja não é um lugar amistoso. É frio, incômodo e impessoal. Não foi projetado para intimidade nem companheirismo. Na maioria dos edifícios das igrejas o assento consiste em bancos de madeira parafusados no piso. Os bancos (ou cadeiras) são organizados em filas, todos voltados para o púlpito. O púlpito localiza-se sobre uma plataforma elevada onde o clero senta (vestígios da basílica romana).
Novamente, a arquitetura da Igreja Protestante dirige todas as atenções para a pessoa que profere o sermão. O edifício se presta para que o púlpito domine a atividade. Assim, este restringe o funcionamento da congregação.
Este arranjo torna quase impossível aos adoradores verem suas faces mutuamente. Em vez disso, cria uma forma de adoração passiva que converte o cristão ativo em um “saco de batatas”.
Em outras palavras, tal arquitetura sugere que a única forma de comunhão entre Deus e Seu povo é via pastor! E apesar destes fatos, nós cristãos ainda acreditamos que o edifício é sagrado.
Certamente alguns dos leitores podem severamente contestar a idéia de que o edifício da igreja seja sagrado. Mas na maioria das vezes são traídos pelas próprias atitudes. Prestem atenção quando falam do edifício da Igreja. Vocês ainda o chamam de “igreja” e, às vezes, o chamam de “casa do Senhor”. O consenso geral entre os cristãos de todas as denominações é que “igreja é essencialmente um lugar separado para o culto”. Isto tem sido considerado verdadeiro pelos últimos 17 séculos. Constantino ainda vive e respira nas mentes da maioria dos cristãos de nossos dias.
O Obsceno Alto Custo da Manutenção
A maioria dos cristãos vê equivocadamente o edifício da igreja como um elemento necessário ao culto. Assim, a questão financeira da construção e da manutenção torna-se inevitável.
O edifício eclesiástico demanda um grande desperdício de dinheiro. Apenas nos Estados Unidos os bens imóveis possuídos pelas igrejas institucionais hoje supera 230 bilhões dólares. Despesas com construção, serviços e manutenção consomem cerca de 18% dos 11 bilhões dólares que são dizimados anualmente para as igrejas. A questão central é: Os cristãos modernos estão desperdiçando uma enorme quantidade de dinheiro com edifícios desnecessários!
Não há nenhuma boa razão para a existência do edifício eclesiástico. Na realidade, todas as razões tradicionais acerca da “necessidade” desse edifício caem por terra diante de uma cuidadosa análise. Tendemos a esquecer facilmente que os primeiros cristãos viraram o mundo de cabeça para baixo sem tais edifícios. A cristandade cresceu rapidamente por cerca de 300 anos sem a ajuda (obstáculo) desses edifícios.
No mundo dos negócios, os custos de manutenção são mortais. Custo de manutenção é aquele que se soma aos custos relacionados ao trabalho “real” que um negócio faz pelos seus clientes. Custo de manutenção é aquele relacionado ao edifício, material de escritório e pessoal da contabilidade. O custo de manutenção é mortal porque aumenta o custo do produto sem agregar-lhe nenhum valor “real” além daquele que o trabalhador entrega aos clientes.
Os que optam por reunir-se em casas em vez de edifícios eclesiásticos eliminam esses altos gastos gerais: O salário do pastor e o gasto do edifício. A diferença entre esse alto gasto e o de uma congregação caseira é brutal. Em vez de pessoal pago mais o “alto gasto” do edifício tragando como um sifão de 50 a 85 % do dinheiro arrecadado da comunidade, a congregação caseira poderia dedicar esse montante para outros serviços mais proveitosos como ministérios, missões locais e distantes.
O edifício da igreja (como salário dos pastores) representa despesas contínuas muito grandes em vez de desembolsos eventuais. Tal coisa saca grande percentual do dinheiro arrecadado pela igreja, não apenas hoje, mas também no próximo mês, no próximo ano, etc. Se essas contas fossem retiradas do mundo financeiro da igreja, os gastos gerais seriam reduzidos a poucos dólares a cada ano. O restante financeiro da igreja poderia ser utilizado para a missão da congregação (outro tema).
Podemos Superar esta Tradição?
O edifício é um obstáculo, não uma ajuda. É algo que rasga o coração da fé cristã — uma fé que nasceu das salas das casas. Cada domingo pela manhã você se senta em um salão com origens pagãs e construído sobre uma filosofia pagã.
Não existe a menor prova de base bíblica para o edifício da igreja. No entanto, você, precioso cristão, continua a pagar um bom dinheiro para santificar seu piso e seus tijolos. Fazendo isso, você apóia um palco artificial e um auditório onde você fica passivo e impedido de ser natural ou íntimo. (Mesmo que você usufrua um doce companheirismo no estacionamento lotado, este é silenciado quando você chega diante da porta e entra dentro do salão).
Não temos idéia do que perdemos enquanto cristãos quando criamos o edifício da igreja. Chegamos a ser vítimas de nosso passado. A tradição nos faz cair.
Fomos engendrados por Constantino que nos deu o privilégio de sermos donos de um edifício. Fomos cegados pelos romanos e gregos que nos impuseram suas basílicas hierarquicamente estruturadas. Fomos enganados pelos godos que nos impuseram sua arquitetura platônica. Fomos seqüestrados pelos egípcios e babilônicos que nos deram o campanário. E fomos fraudados pelos atenienses que nos impuseram suas colunas dóricas.
De alguma maneira fomos ensinados a nos sentir mais santos quando estamos na “Casa de Deus”. Herdamos uma dependência patológica de um edifício para adorar a Deus. Mas, na realidade, não há nada mais paralisante, artificial, impessoal, ou forçado que um edifício da igreja clínica. Em tal edifício, você não é nada mais que uma estatística — um nome em uma ficha para ser arquivada no escritório do pastor. Não há nada amistoso ou pessoal nisso.
Enfim, o edifício da igreja nos ensinou de uma maneira errada o significado da igreja e sua finalidade. O edifício é uma negação arquitetural do sacerdócio de todos os crentes. É uma contradição da verdadeira natureza da ekklesia — a qual é uma comunidade contracultural. O edifício impede nosso entendimento e experiência de que a Igreja é o Corpo funcional de Cristo que vive e respira sob sua direta direção sem intermediários.
O aparecimento do edifício da igreja é nada mais que um ressurgimento do Judaísmo e do paganismo sob novas vestes. As distinções hierárquicas implícitas presentes em sua arquitetura seriam rechaçadas pela maioria dos protestantes se fossem devidamente denunciadas. Contudo as temos aceitado por muitos séculos de maneira inconsciente. Por que? Pelo deslumbrante poder da tradição.
Já é hora de nós, cristãos, despertarmos para o fato de que não estamos atuando bíblica e espiritualmente quando aceitamos e apoiamos os edifícios das igrejas. João Newton disse corretamente, “Não deixe aquele que adora sob uma haste condenar aquele que adora sob uma chaminé”. Gostaria de acrescentar uma pergunta a essa citação: Onde está a autoridade bíblica ou histórica do cristão que se reúne sob um campanário?
DISCIPULOANTONIONY@GMAIL.COM
IMPRIMA ESTA MENSAGEM E DISTRIBUA A QUANTAS PESSOAS FOR POSSIVEL,
E POR CADA UMA DELAS ROGAREI AO SENHOR QUE LHE CONCEDA UMA BENÇÃO ESPECIAL
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