O Sacerdócio de Todos os Crentes
O significado original da palavra “sacerdote” é “aquele que oferece” (Hb.5.1; 8.3; 1Pd.2.5). Um sacerdote é aquele que tem o privilégio de entrar na presença de Deus em representação do povo. No cristianismo, um sacerdote exerce seu sacerdócio ao oferecer os sacrifícios de louvores a Deus e ao apresentar petições a Deus em oração (Hb.13.5; 1Jo.5.14-15). Contudo, uma das causas da debilidade e da confusão dominante na igreja professante é que o sacerdote tem sido em muitos casos usurpado como direito por uma classe privilegiada de pessoas, algumas das quais nem sequer são salvas!
A Escritura ensina que todos os crentes são sacerdotes! O livro de Apocalipse declara que fomos feitos “sacerdotes para Deus” pela morte e derramamento do sangue de Cristo (Ap.1.6; 5.10). A primeira epistola de Pedro também anuncia: “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais e agradáveis a Deus por Jesus Cristo.” A epistola aos hebreus exorta aos cristãos como um todo para que se aproximem de Deus dentro do véu, no lugar santíssimo – na presença de Deus (Hb.10.19-22; 13.15-16). Como sacerdotes, temos direito de “aproximarmos” da Sua presença. No lugar que nenhum filho de Arão podia entrar. Inclusive quando Arão, o Sumo Sacerdote de Israel, entrava uma vez ao ano adentro do véu, não entrava com a liberdade como nos temos agora; no Dia da Expiação entrava com temor de morrer, porem, nós podemos entrar “em inteira certeza de fé.”. Nas diversas passagens da Escritura em que se trata da questão do sacerdócio, não há menção, nem sequer uma insinuação, de que só alguns dos santos são sacerdotes. Tampouco há nenhum outro lugar no Novo Testamento onde se propõe tal conceito. Quando o Novo Testamento fala de sacerdócio, se refere ao ato que todos os crentes constituem tal sacerdócio.
Portanto, a Escritura ensina que todos os cristãos são sacerdotes, e, portanto todos têm o mesmo privilegio de exercer este privilegio na presença de Deus, é evidente que não há necessidade de designar nenhum clero aparte dos outros crentes para que exerçam estes privilégios em favor do resto. Nas reuniões para o culto e oração (nas quais os cristãos exercem seu sacerdócio), só temos que esperar no Espírito de Deus para que Ele conduza as orações e louvores dos santos. Se O deixarmos dirigir a assembléia no posto que Lhe pertence, Ele conduzirá um irmão ali e outro irmão lá, para que expressem de maneira audível a adoração e o louvor como porta-vozes da assembléia.
Quando compreendemos quão estreita é a relação que tem os cristãos como parte do corpo e da esposa de Cristo, podemos ver até que ponto é incompatível com o conceito de uma classe ministerial de crentes que estejam mais próximos de Deus que os demais (Ef.2.13; 5.25-31).
Manter uma classe sacerdotal para nós como cristãos significa negar que somos capazes, como sacerdotes, de oferecer sacrifícios espirituais a Deus. Na verdade, isto elimina os privilégios do cristianismo e é uma restauração do judaísmo.
Ainda que poucas denominações cheguem tão longe como dar a seus clérigos o titulo de sacerdote (o que implica que os demais naquela denominação não são), a maioria das igrejas de tipo evangélico chamam a seus clérigos “Pastor” ou “Ministro”. Existe pouca diferença prática em que esta posição na igreja seja designada com o término “Pastor” ou “Sacerdote”:não é conforme a verdade da Escritura.
A Diferença Entre Sacerdócio e Dom
É importante compreender a diferença entre sacerdócio e dom. São duas coisas distintas. Um sacerdote vai a Deus em representação do povo, aquele que exerce seu dom vai ao povo em representação de Deus.
Os dons são, particularmente, o que o Senhor dá, como Cabeça da igreja, aos diversos membros de Seu corpo, para que possam desempenhar o posto que Deus lhes tem dado no corpo. A Bíblia ensina que cada membro do corpo de Cristo recebeu um dom (1 Co.12.7; Ef.4.7; 1Pd.4.10; Rm.12.6-8).
Entretanto, nem todos os membros do corpo de Cristo têm um dom para ministrar a Palavra. Alguns podem ter um dom facilmente reconhecível: como evangelistas, pastores ou mestres (Ef.4.4-16; Rm.12.4-8; 1 Co.12.4-31); no caso de outros, pode tratar-se de coisas menos definidas, como “exercer misericórdia” (Rm.12.8; 1 Co.12.28). Tanto ao se tratar de evangelismo ou de ajudas, uma coisa é certa: que todos temos algo para fazer no corpo de Cristo. Os dons têm sido dados com o propósito de “aperfeiçoar os santos para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos a unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, a medida da estatura completa de Cristo. Para que não sejamos mais como meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que a cabeça, Cristo” (Ef.4.12-15).
Isto nos mostra que os dons são para o beneficio espiritual da Igreja.
A Diferença Entre Capacidade e Dom
Em Mateus 25.14-30 o Senhor estabelece uma distinção entre capacidade e dom. Conta a historia de um homem que empreendeu uma viagem a um país distante, antes de partir, deu talentos (uma soma de dinheiro) a seus servos, os quais deviam negociar até que ele voltasse. Alguns receberam mais e outros menos. Esta é uma evidente alusão ao Senhor dando dons a Seu povo, os quais devem exercer-los para Ele em Sua ausência. Um dia Ele voltará e pedirá conta do que temos feito com o que nos tem dado como dons. Naquele dia se darão recompensas aos que tem desempenhado fielmente seu ministério (Mt.25.19-23).
É digno de observar que o homem da parábola deu “a cada um segundo a sua capacidade” (Mt.25.15). Aqui o Senhor distingue entre ambas as coisas. Observemos que esses servos tinham suas várias capacidades antes que o amo os chamasse para dar-lhes os talentos.
A capacidade é algo que se dá a uma pessoa quando nasce neste mundo. Em Sua providencia, Deus determina e forma o vaso de Seus propósitos muito antes que ele ou ela sequer sejam salvos. Deus dá e ajusta os poderes e as capacidades intelectuais da pessoa, já incluso antes da conversão. O dom, pelo contrário, é algo que é dado a pessoa pelo Espírito da parte do Senhor quando é salvo. Assim que, a capacidade é natural, o dom é espiritual. O dom se dá a uma pessoa para que possa cumprir seu ministério no corpo de Cristo. Aqui se vê a sabedoria do Senhor, em dar o dom segundo a nossa capacidade. Por exemplo: geralmente não se dá o dom de evangelista a uma pessoa tímida. A pessoa que naturalmente gosta de estar com as pessoas e que tem facilidade de palavras seria candidata a receber um dom assim. Da mesma forma, o dom de ensino exige certa medida de capacidade natural na área do poder intelectual.
Mencionamos isto porque há muita confusão acerca deste assunto no âmbito da Cristandade. As vezes ouvimos de cristãos referindo-se a famosos músicos ou atletas convertidos, no sentido que suas capacidades naturais são “seus dons”. Aclaremos este ponto: um dom é uma manifestação espiritual no corpo de Cristo. Está relacionado com coisas espirituais (1 Co.12.1; 14.1). Não vemos nas Escrituras que Deus queira reuniões da igreja onde essas pessoas possam exibir suas capacidades naturais. Às vezes essas pessoas famosas são usadas tão somente para entreter a audiência. Perguntamos: ‘Se está consolidando os santos de Deus na verdade por meio de todas estas coisas naturais?’ Os dons não são para entretenimento dos santos de Deus, senão para a edificação dos santos em sua “fé santíssima”.
J. N. Darby disse: ‘É um principio totalmente falso que os dons naturais sejam eles mesmos a justificação de seu uso. Pode ser que eu tenha uma força assombrosa ou grande velocidade em correr, deixo um homem derrubado com o primeiro e ganho um troféu com o segundo. A música pode ser algo mais refinado, porem o princípio é o mesmo. Creio que isto seja da maior importância. Os cristãos têm perdido sua influencia moral ao introduzir a natureza e o mundo como coisas inócuas. Todas as coisas me são lícitas. Porem, como disse, não podemos mesclar a carne e o Espírito’.
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